segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

joelhos doloridos

eu imaginava uma vida perfeita pra nós dois. você seria pra sempre meu, e eu seria pra sempre sua. eu não conhecia o tempo, e não sabia que as pequenas feridas que iam se abrindo enquanto estávamos sendo, ficariam abertas por um período maior do que o esperado.

mas o fato é que eu não esperava tempo nenhum. e como uma criança quando rala a perna numa queda de patins, eu sacodia a poeira e continuava a brincar. sem saber que com essas quedas, meus joelhos iam colecionando machucados internos, que mais tarde doiriam muito, e dificultariam bastante a flexão dos meus membros.

e estão doendo, agora. agora sei que o tempo existe. agora, que não há mais volta, sei que deveria ter me protegido um pouco mais. mas as crianças nunca se importam: só querem brincar.

se eu pudesse escolher, continuaria vivendo com a graça das crianças, despreocupada e feliz com meus patins detonados. mas meus joelhos latejam, me lembrando sempre dos efeitos do tempo.

você evitou muitas das minhas quedas, é verdade. mas quantas delas não evitou? pior: quantas delas você mesmo causou? obviamente, você nunca seria capaz de, intencionalmente, me machucar. mas tá doendo, pra quem é que eu grito, pra quem é que eu peço socorro?

e se nós realmente estivéssemos conversando, neste momento você se defenderia. e eu diria que não, que você não tem do que se defender. nenhum de nós é culpado. estávamos muito ocupados vivendo o presente para nos preocuparmos com o futuro.

cada um com sua ingenuidade característica: eu, a das crianças. você, a dos adultos.

tenho um pouco do teu olhar. percebo isso quando me vejo no espelho. e sei que pelos olhos se conhece a alma de uma pessoa. são meus olhos que não me deixam negar: sou sua filha.

eu imaginava uma vida perfeita para nós dois. hoje, eu só quero que as nossas feridas não nos impeçam de caminhar até o fim. e que não precisemos da solitária muleta para seguirmos em frente.

imperfeitos, coxos, inflexíveis. mas ainda assim de mãos dadas. até o não-mais-ver da estrada.

2 comentários:

  1. Quanto mais se cai e mais se rala o joelho, mais duro e calejado ele fica.

    Isso é bom? É ruim?

    Não sei. Só sei que vai da gente cuidar das feridas, lixar os calos e tentar restaurar os joelhos, deixa-los quase imaculados de novo. Só temos que ter consciência de que, com certeza, vamos nos ralar de novo.

    E, se a queda for tão grande a ponto de causar alguma inflamação, fratura ou algo mais sério ainda, devemos nos preparar física e psicologicamente, pois a cura é um processo longo e demorado.

    Quem já machucou os joelhos sabe: depois de contusões sérias, eles nunca voltam ao que eram antes.

    ResponderEliminar
  2. É porque nós, crianças, não acreditamos que aquele machucadinho, aquele pedaço de casca na pele, ou aquele pequeno tombo, possa causar tanta dor.
    A gente subestima demais a dor. E hiperestima demais o amor...

    ResponderEliminar

Que tal continuar o poema nos comentários? Co-criemos.