domingo, 9 de setembro de 2012

de escrever


me enjoa a palavra: poeta
de mal grado a uso 
quando me pedem uma descrição
me sinto indiscreta

nasci doente de palavras
doida de gramática
isso explicaria melhor

mas me pedem que eu diga
o que eu sou – engraçado, nunca quem -
adoraria responder: uma pessoa
seria um ufa

mas ser uma pessoa nunca é suficiente
nada é 
querem definições


a única coisa que sinto que sou
- poeta -
também não sinto ser

o poeta está trancado no castelo
bem alto
cantando belezas que só ele enxerga

enquanto eu trabalho na feira
oferecendo maçãs
para pessoas que
cheias de fome
não possuem dentes
nem nome

sábado, 7 de julho de 2012

de instantes




núcleo do estar
estrela pulsante
da exata hora

ser parece
pra sempre

mas distante disso
ser é instante
e perece

diante do
eterno
agora

domingo, 3 de junho de 2012

geração y


tenho medo
temo muda
muda o rumo
muda a rima

minto à mente
me desminto

tudo intenso
tudo tenso
somos tudo?
somos nada?
somos densos
bem pequenos
rasos, raros,
somo dentro

fora o mundo
somos tantos
somos um
mas quem somos?
simples seres?
sono insano?
ano ido?
quando somos?
pronde vamos?
vamos indo?
como vamos?
qual caminho?

temo muda
eu miúda
mudo o rumo
mudo a rima
minto à mente
me desminto
como sinto?

nada santa.

tudo intenso
tem perguntas
tem repostas?
quem aposta?
que sou eu?
eu sou onde?
eu sou como?
tu me ouves?
então fala
me dê senso
ou me cala
o contrassenso

me diz, logos
me revela!
eu pertenço
ou não pertenço?




quarta-feira, 28 de março de 2012

naturezumana


a luta humana. a barata iluminada andando pela calçada. a escada. a catraca. a escada. a porta se abrindo. o apito. a voz do homem. eu sentada. inquieta. a luta humana. o design dos assentos. o design no cartaz. o trabalho. as costuras da calça do homem sentado. a mulher. o trabalho. a luta humana. o homem nu por dentro da calça. a estrutura do trem. o apoio cilíndrico. o trabalho.  a janela. o chão da estação onde o trem parou, com círculos em relevo. o caminho para os cegos. a luta humana. a arquitetura da estação. o cimento. a pintura. a luta humana. a luz refletindo no azul do banco do assento preferencial. o não-humano.  reflexo na janela. o homem nu dentro da calça sentado sobre o banco duro. moléculas sustentando o cansaço nu das moléculas duras do homem vestido. o homem. o trabalho. as moléculas diferentes de cada coisa, coisa-homem, coisa-coisa. a gravidade. o barulho do metrô. a velocidade. coisa-coisa, coisa-homem. o menino mastigando ansioso. a língua dentro da boca fechada, procurando migalhas por entre os dentes. coisa-menino. o livro rapidamente folheado. livro-livro. livro-livre. a estação liberdade. o outono. o estado. o estar. o estão. o estou. a consciência em estado neutro. a voz feminina. a  voz. a  palavra. o som. o dom. o uso. o talento. a vocação. o trabalho. a conversa sobre religião. a fé como religião única. o garçom que queria aprender inglês. o trabalho. o homem. a luta humana.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

coisa de pele


não chamo o calor do sol
de meu calor
assim como não chamo de meu
o seu amor

mas meu lugar ao sol
esse ninguém tasca
enquanto não vêm as nuvens
estar bronzeada 

me basta

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

prova dos nove


amo a boca de josé
a língua de luíza
os dentes de joão
e o beijo dos três

amo as mãos de marcos
os braços de leandro
as tetas de marina
e o abraço dos três

amo os olhos de alexandre
os ouvidos de fernando
a voz de marcela
e a compreensão dos três

o amor me move

amar mais que um nome
poder tudo de uma vez
(por todas e por todos)
será a prova dos nove