quinta-feira, 27 de maio de 2010

do contra

quero sempre
o que nunca está
no que está

se me dão o centro
quero a borda

se me oferecem o chão
escolho voar

vejo mais nitidamente
quando fecho os olhos

e faço laços
com as voltas que
o mundo dá

corporal

te amo com todos meus músculos
com meus glóbulos vermelhos
com minhas órbitas doloridas
e com as dúvidas que são pedras na minha cabeça
mas não no meu coração
te amo com o peito cheio
e com as mãos vazias
o que trago e te ofereço é meu amor
meu cansaço e minhas pernas
que apesar de tudo ainda desejam caminhar
te amo com todo meu tecido adiposo
com meus poucos cílios
e minha boca salivante
com os nervos te amo
com os tendões
as unhas, dentes e estômago
te amo com o enjoo da vida
sempre presente
com a náusea da existência
te amo e amo como respiro:
assim, sem esforço algum
te amo incerteza, silêncio e pintas
molecagens, riso inconfundível e pouca fala
te amo corpo inteiro
pêlos e tatuagem
nu te amo ainda mais
despido, dormindo, vulnerável
te amo olhos fechados
e boca aberta
e por amar assim
pouco calma, muito corpo,
alma toda
e não só por amar assim
mas por ter vivido
antes e depois e estar agora
te e me aprendendo
não sei como terminar um poema de amor
só sei fazer amor
com este meu corpo
que é pouco
e talvez não mereça o teu

terça-feira, 25 de maio de 2010

falácia


fato
seu falo
me cala

amorfo

dê forma
com cuidado, amor

amor demais
à forma


                         deforma

s@bedo(ria)

cyber m@is
pr@ ser
feliz?

pare

parecer
ao invés de ser
é padecer

o inferno são eus outros

arrumei Sartre
pra me coçar
concluí algo
que boto fé:

o inferno
são os outros

o que poucos sabem
é que são os outros
que a gente é

forma x conteúdo

forma
versos
conteúdo

a meta
do poeta
é conter
tudo

terça-feira, 18 de maio de 2010

Da liberdade incompreendida.

A - É disso que eu estou falando.
B - De quê?
A - De liberdade.
B - Ã?
A - LIBERDADE.
B - Mas, o quê?
A - Liberdade, porra, liberdade!
B - Puta que o pariu, do que é que você tá falando?
A - Eu não sei o que é que há de errado com a liberdade. Tudo o que eu queria era um pouco de liberdade, porque gosto das coisas mais espontâneas e naturais. Não me sinto bem coagindo, influenciando, forçando uma situação, manipulando as circunstâncias. Quando eu ofereço a você a sua própria liberdade, também é um pouco por egoísmo.
B - É, você é egoísta mesmo. Mas explique.
A - Porque é de meu interesse. É uma satisfação saber que foi a sua liberdade que te trouxe até mim neste momento, por exemplo. E não porque você acha que eu preciso de você ao meu lado agora. Esta sua liberdade ao lado da minha é que me satisfaz. Por que você tem asas e não quer voar? Quero te mostrar as suas asas. Asas não são insultos. São feitas para voar. Suas asas não me ferem. Quero que você seja livre, que voe. Tão alto que seja capaz de ver tudo, tudo de lá de cima. Não entende? Quero que você se tenha. Para que possamos não ter um ao outro, e sim a companhia um do outro.
B - E tudo o que eu queria era que você se importasse mais. Você não me compreende?
A - Mas será que você não enxerga que é essa a minha melhor maneira de me entregar a você? Eu não sei ser de outro jeito. Eu sou assim. Essa é minha maior oferenda. Não te peço nada. Pedir é amar?
B - Você não me ama.
A - Você não se ama.
B - Você é insensível.
A - Você é melodramática.
B - Eu te odeio!
A - E você ainda fala que sou eu quem não te ama. 

quinta-feira, 13 de maio de 2010

dúvida

dúvida
                    dedicado ao du 
toda dúvida
divide a vida
entre uma dádiva
e uma dívida

quarta-feira, 12 de maio de 2010

.

ponto final

se você me der
[...]
eu fico com
[:]
e te devolvo
[.]

                                                           [troca justa, não?]

terça-feira, 11 de maio de 2010

dai-me

                                                                           (ins)pirado em um papo
                                                                            no MSN com @josue_elias
você é dose
enche meu copo
e meu corpo
de metamorfoses

depois minha
in[consciência]
é que arca
com as
consequências

sozinha




segunda-feira, 10 de maio de 2010

Divagação de Sophia sobre "ser"

Uma vez que se fala ser, já não se está sendo. Está se deixando de ser para se pensar sobre o ser. Eu já fui. Eu já pensei sobre o meu estar sendo. Pensar se torna um vício, assim como ler. Tente olhar para uma palavra sem ler. É assim que tenho estado – estado, e não sido. Olho para mim e já não consigo deixar de pensar que: sou. Quero o caminho inverso. Quero despensar. Quero uma ignorância doce e lúcida. A simplicidade por opção. Ser, pensar sobre o ser, pensar ser e então, somente então, a coisa pura que é: tão somente ser. Atravessar o complexo para chegar ao núcleo que interessa. O núcleo neutro de: ser.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

não vou rimar amor com dor

pálida e sem cor
estou abatida
e sinto dor

mas que pena
essa rima é muito batida
pra terminar o poema

adeus a mim

Para A.P. um [novo] amigo querido, 
nome protegido até segunda ordem.

transpirar
para não pirar

correr
para não corar

implodir
para explodir

viver
às vezes
é deixar-se ir

se esconder
para fora
pelo menos por agora

esforço físico traz calma
sublima a alma
é a melhor escolha
antes de ir embora

terça-feira, 4 de maio de 2010

deficiência sentimental

sua alma é surda
não ouve a minha
vontade absurda muda
de te aprender

confunde tudo
e enxerga, cego
que o que eu quero
é te prender

logo eu que nem sequer possuo laços

segunda-feira, 3 de maio de 2010

quase indiferente

o homem que eu amei
e não me amou
já não me causa mais
ódio, carinho ou pena

ele não me foi
de todo inútil

afinal
no final
tudo vira poema

sábado, 1 de maio de 2010

desapetite

fazer social
é restaurante fino
buffet sem bufões
talheres certos
mesas sem cotovelo
assuntos sem pessoas
pessoas sem assunto

obrigada, garçom
esse prato não desce
esse gosto não engulo
fico com os restos
que sobraram de mim

embrulha pra viagem?

desassossego

viver gente
dói há anos
nos tutanos

viver me deixa
cego

ser carne
osso e tropeço
fere a alma
entorta
os dentes

viver me tira o
sos
s
[ego]

o que em mim te ama

minhas orelhas te amam minhas ideias minhas veias meu coração minhas artérias te amam meus seios meus receios minha indagação minhas carências te amam meus lábios minhas lábias minha confusão minhas loucuras te amam minha idade minha insanidade minha subversão minhas dúvidas te amam meus baixos meus relaxos minha discrição minhas palavras te amam meus dedos meus medos minha intuição minhas injúrias te amam minhas secas meus ciclos minha tentação minhas poesias te amam meus acasos meus ocasos minha menstruação minhas mulheres te amam minhas melhores minhas piores minha intersecção minhas falácias te amam meus silêncios meus ócios minha masturbação minhas moléstias te amam minhas rimas meus rumos minha ostentação minhas certezas te amam meus sins meus fins minha solidão minhas maldades te amam meus passos meus espaços minha escuridão minhas torturas te amam meus segredos meus sagrados minha ingratidão