quero o meu corpo
despido do desejo
sem medo da força
quero o meu corpo
e todas suas memórias
tocadas com suavidade
isto não é romantismo, tonta
tolice sua me achar romântica
por ousar querer o que mereço
carinho
cumplicidade
cuidado
menos do que isso
não é vínculo
é adereço
nunca entendi
o barato
dessa droga: status
a imagem sequestra
sentidos
fatos consumados
atos de consumo
bucetas commodities*
tudo errado
neoliberalismo
domando afetos
não tem jeito
insubmissa rejeito
relações: delas
não procuro definições
como "para sempre"
festa de casamento
cafonices heterossexuais
procuro, antes, a matéria
das vozes que se alternam
atingindo os tímpanos
percorrendo nossos cérebros
produzindo sentido
sustentado por
palavras
mãos
bocas
nucas
coxas
seios
vulvas
lábios
línguas
cheiros
gostos
analiso o discurso
dos nossos movimentos
mesmo que a boca esteja
calada
o ruidoso silêncio
quebrado
a rede que se forma
ligando um silêncio
no outro
nós
da
realidade
não desconfiar
procuro a matéria da delícia
de gozar e fazer gozar
procuro a matéria
de uma vida autoral
fora das leis dos homens
e não aceito nada
pela metade
meia é de colocar
no pé
ou vem inteira
ou marcha-ré
*commodities é um jargão do marketing e significa mercadorias