terça-feira, 31 de dezembro de 2013

à beira

teu amor
era pálido
bélico
fálico

teu amor
já era
ou nem era?

fui encaixotada
no teu ideal
praticamente enxotada
da minha vida [ir]real

não sinto raiva
agradeço:
estou desperta
e pago o preço
de viver deserta
e cansada
de nadar e nadar
pra morrer
desidratada
de tanto chorar

meu mar
particular

foi o seu amor falho
de guerra
que me trouxe um filho
taurino
e meus pés de volta
pra terra

à minha maneira
estou inteira
aprendendo a viver
à beira

tentando caber
no mundo

mesmo que ele
não me queira

domingo, 22 de dezembro de 2013

sábado, 14 de dezembro de 2013

sobrevivente

deito sobre
meu próprio peito

sou forte
e por sorte
à minha morte
faltou leito

para todos os efeitos
me manter viva
[mais que um direito]
é o jeito

isso posto
vivo com gosto

mesmo que viver
seja imperfeito

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

mistopolitana

nasci no interior
morri na cidade grande

vezes mulher
vezes menina

atravesso correndo
as ruas
observo atenta
as luas

colho silêncio
das buzinas

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

o nada

uma vida
percebendo
no silêncio

uma luta
um hiato
um luto

mal sabia:
estar vazia
é criação
em estado
bruto

domingo, 8 de dezembro de 2013

cicatriz ii

finjo que não dói
vivo por um triz

atriz
de minha própria
cicatriz

cicatriz

o medo furta
a vida

estou farta
da ferida

entre
pesada
inquieta
& aflita

solto o grito e
o verbo ao vento
já não preciso
ser discreta

sagaz sigo
ao segundo
seguinte

:o presente
é meu requinte

mereço ser feliz
mesmo que pulse
a cicatriz

filho

tudo o que tenho
é meu filho
meu punho
meu empenho

o mais
da batalha
tralha

vir-a-ser
impreciso

de nada mais
preciso,

suponho

me basto
com seu
precioso sorriso:

meu sonho

Lembrança

teu colo quente
meu solo úmido

abraço de raiz
quebrando o concreto
da árvore cercada
pela ordem do mundo

a planta me lembrou
de buscar
a luz

seu coração
um sol
na imensidão gelada
dos planetas
sem amor

e eu a menina assustada
dentro de um túmulo
de carne

com medo
do cúmulo
do nada

resistência

resisto
e me registro
pra provar
que eu existo

não hesito:
pago o preço
do grito

ao berro
estou condenada

do silêncio
nunca ganhei
nada

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

dia difícil II

podia ser bomba
boom: tchau mundo
o fim num segundo
podia ser míssil

mas respira fundo
[há guerra aqui dentro]
silencia o templo
contempla o tempo

a morte é fácil
o dia difícil
queria ser fóssil
viver é meu vício

então vou dormir
acabar com o suplício

e que amanhã
não haja de hoje
resquícios

dia difícil

busco o silêncio
um norte

mas eu só vejo
a morte

não sei se sou
fraca ou forte

duvido que alguém
se importe

mas se alguém se importa
que sorte