segunda-feira, 23 de novembro de 2009

leitura semiótica

é difícil ler
essa meia verdade
que é você
com essa minha
semiótica de bar

basta,
estou farta

pra acabar
pague a minha cerveja
pegue o seu cigarro
pique minhas cartas
e au revoir

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

o nascimento do poema


o nascimento do poema


o poema é um parto
a poeta é a parteira
a gestação é que é esquisita:
pode durar meia hora
ou uma vida inteira

caderno


caderno


meu coração é um caderno
pequeno tipo brochura
infestado de rasuras
e folhas pela metade
de legível, só tem um nome
está escrito à caneta
pena ter de esconder
lá na última gaveta

precipício

precipício

quando me precipitei
e te disse adeus
foi como uma queda sem fim

mas não fui eu quem caiu no abismo
:foi o abismo que caiu em mim

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

vício


Fume este cigarro até o fim, mesmo com todo esse enjôo, mesmo com toda essa vida, mesmo com todos esses planos sem nexo, complexos-convexos-complexos. Traga com vontade, traga a taça de vinho, traga o copo de vodka com coca com soda com melodrama, traga toda sua trama e depois deita na tua cama, mas antes fuma este cigarro até o fim. Fecha e aperta os olhos, lembra da tua infância, dos teus descompromissos, lembra de você aprendendo a andar de bicicleta, ralando o joelho, o cotovelo, as pernas pretas de graxa e o sorriso sem graça que você dava quando caía de patins. Fuma, fuma esse cigarro maldito até o fim. Force a fumaça pra dentro mesmo querendo vomitar, mesmo querendo parar de fumar, agora você está aqui e agora vai até o fim e agora quer jogar tudo pro alto, joga, joga, mas segura o cigarro lá em cima, com as mãos esticadas para um deus que não existe e que se existe não tá nem em cima nem embaixo, mas dentro, lembra? Lembra, com os olhos borrados de rímel você lembra, mas logo se força a esquecer, porque pensar nisso dá ânsias, e força e forja mais um trago, fingindo força. Fuma, fuma até o fim. Assim que acabar teu cigarro para onde você vai? Acha que está segurando, mas quem te segura é ele. Para onde você vai, me diz? Larga tudo: esse emprego, seus melhores piores amigos, larga essa vida larga-gorda-inútil, essa cadeira em que você senta sua bunda preguiçosa, esse chuveiro quebrado, esse lençol velho, larga. E agora que o cigarro acabou, deita e dorme. E que seus sonhos tragam mais dúvidas para seus dias.