minha vida não vai acabar
amanhã
se ela não corresponder
não me deixo levar
pelo ímpeto da conquista
[embora o ímpeto exista]
ela não é
terra à vista
nem minha vida
uma cruzada
nada disso
de tudo
ou nada
talvez eu não seja
digna
de seu interesse
talvez eu seja:
ela só
não me conhece
e apesar de curiosa
para saber
se ela
gosta ou não gosta
não quero apressar
a resposta
pode ser que
o interesse seja
meio que uma
lagarta
que demora
a chegar
ao destino
[farta do chão]
pode ser que
nossa potência
seja borboleta
[pode ser que não]
e se for
prefiro apenas
pacientemente
esperar
pela metamorfose
jamais me
conformaria
caso a minha
ansiedade
machucasse o casulo
onde nossas
supostas asas
amadurecem
comprometendo
o possível
voo
e se não for
ter tecido
este poema
já valeu
a pena
pois ele não nasceu
de expectativas
ou projeções futuras
mas da celebração
deste instante
repleto de si próprio
que oferece
agora sem medo
de altura
a mão para o salto
dos instantes
seguintes
a oferta
é mais importante
do que a sua aceitação
e a recusa
um risco
que não ouso
temer