quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

nem amor nem medo

minha vida não vai acabar
amanhã
se ela não corresponder

não me deixo levar
pelo ímpeto da conquista

[embora o ímpeto exista]

ela não é
terra à vista

nem minha vida
uma cruzada

nada disso
de tudo
ou nada

talvez eu não seja
digna
de seu interesse

talvez eu seja:
ela só
não me conhece

e apesar de curiosa
para saber
se ela
gosta ou não gosta
não quero apressar
a resposta

pode ser que
o interesse seja
meio que uma
lagarta

que demora
a chegar
ao destino

[farta do chão]

pode ser que
nossa potência
seja borboleta

[pode ser que não]

e se for
prefiro apenas
pacientemente
esperar
pela metamorfose

jamais me
conformaria
caso a minha
ansiedade
machucasse o casulo
onde nossas
supostas asas
amadurecem

comprometendo
o possível
voo

e se não for
ter tecido
este poema

já valeu
a pena

pois ele não nasceu
de expectativas
ou projeções futuras
mas da celebração
deste instante
repleto de si próprio

que oferece
agora sem medo
de altura
a mão para o salto
dos instantes
seguintes

a oferta
é mais importante
do que a sua aceitação

e a recusa
um risco
que não ouso
temer