quinta-feira, 18 de agosto de 2011

cara sério

anêmica vida anímica
tua alma mal fala
ou faz mímica

o que é que há por dentro
que não transparece fora?

o que fez contigo o tempo
que desastres, que mistérios
fizeram este cara sério
com quem pareces agora?

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Quer ganhar a poesia completa do Manoel de Barros?

Concurso Cultural  
Livrai-nos

Costumo comprar livros de poesia e literatura em geral, lê-los e deixá-los guardados em casa. Mas não tenho muito espaço e acho que um livro parado é um desperdício. Pensando nisso, tive a ideia de oferecer outros donos a esses livros. Porque um livro precisa de leitores para se manter vivo. Livro na estante é livro morto.

Alguns livros estarão novinhos em folha. Outros, estarão grifados (por mim, claro). Outros ainda poderão estar com aspecto de usado mesmo. Rodadinho. Serei clara com todos em relação ao estado de cada um dos livros que eu colocar aqui pra fazermos essa brincadeira. E todos os ganhadores terão uma dedicatória especial.

Se você quer ajudar a dar vida aos livros que estavam parados lá em casa, curta a fanpage do blog aqui. Veja como participar:

CC#1 Livrai-nos, Manoel de Barros!

1. Curta a fanpage do blog
2. Faça uma frase com até 140 caracteres, inspirada no estilo do Manoel
3. Poste a frase aqui

O autor da frase que mais me tocar leva o livro. O resultado sai no dia 26 de agosto, às 16h (sexta-feira), no mural da fanpage. Entrarei em contato via inbox. 

Regulamento: o Concurso Cultural Livrai-nos é válido somente em território nacional. O livro só poderá ser enviado àqueles que tiverem curtido a página do blog, acima citada. Este concurso é uma brincadeira, e tem caráter totalmente recreativo, cultural e não-comercial.

Estado do livro: sem grifos, capa um pouco sujinha porque andei com ele pra lá e pra cá por meses. Mas em ótimo estado.

Inspire-se no Manoel:

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.

Boa sorte (ou seria criatividade?) a todos.



segunda-feira, 15 de agosto de 2011

o que é, o que é?


que na presença
dos corpos
e na convivência
dos dias
se esvazia

e que na ausência
dos corpos
e na nostalgia
dos dias
se amplia?

que angústia é essa
e que agonia

se não é amor
o que será
que seria?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sophia não morreu

Não há no mundo príncipe encantado nenhum para libertar Sophia de seu sono profundo. Não, Sophia não havia morrido. Você tinha acreditado no para sempre de Sophia? No sono eterno de Sophia? Tolo. Tola ela também, que tinha olhado pra si mesma e repetido: estou morta, estou morta, estou morta. Assim mesmo, três vezes e quantas mais vezes fossem necessárias mentir pra si mesma, só pra acreditar na própria morte, que era tão bela de se acreditar. Afinal, morrer por amor é cinematográfico, que menina por aí nunca fantasiou histórias de Romeu e Julieta? Também é sabido que muitos homens acham que são Romeus. Mas Sophia, que já havia passado pelo sem nome da vida, agora olhava-se no espelho e dizia: estou viva e meu nome é Sophia. Pra que Julieta se posso ser Sophia? Se sou: Sophia. Quem precisa do Romeu é a Julieta, e pobre Julieta, visto que o Romeu nunca existiu fora de seus sonhos de menina. Qualquer um seria Romeu, já que Romeu era só um sonho. Sophia riu, deu um passo adiante. Acordara do sono, rira dos sonhos bobos que, por mais reais que parecessem, não haviam passado de sonhos. Tomara seu nome pra si. So-phi-a. Desperta, toda viva, alerta e neutra. Feliz não pode se dizer que estava, mas estava de um sentimento que nunca tivera antes. E repetia: quem nasceu pra Julieta jamais será Sophia. Quem nasceu pra Julieta jamais será Sophia. Quem nasceu pra Julieta jamais será Sophia. Três vezes ou quantas mais vezes fossem necessárias para confiar na verdade que havia acabado de descobrir.

A maldição de Sophia

Sophia sofria por ser livre. Livre demais, exageradamente livre. Doía tanto. Dava nela uma vontade besta e inútil de não querer ser livre. Sonhava em ter uma capacidade de se prender, de se sentir posse de alguém. De seu pai, de sua mãe, de sua irmã, do homem que ela amava, de deus, de seus amigos, do bairro onde vivia ou até mesmo do bairro onde tinha nascido, de sua cidade, de seu chefe, das causas nas quais acreditava, do Estado, de seus cantores preferidos, de seus professores. Desesperadamente Sophia desejava ser de alguém. Mas ela era dela, e só dela. Não tinha escolha: nascera assim. Era defeito de fábrica, culpa de ninguém. A liberdade de Sophia era seu câncer, que não a deixava ser de ninguém, exceto dela mesma. Ah, como ela queria se dar a alguém ou a alguma coisa que fizesse dela o que bem entendesse, gato, sapato, algemas e correntes. E que pertencer a alguém fosse a fonte de toda uma felicidade que desconhecia e invejava. Sophia não podia se dar de presente a ninguém, a nada. Misteriosamente cumpria o que o destino havia reservado pra ela. Lutava bravamente, mas no fim das contas, lá estava ela condenada novamente. Condenada a ser livre.