quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A maldição de Sophia

Sophia sofria por ser livre. Livre demais, exageradamente livre. Doía tanto. Dava nela uma vontade besta e inútil de não querer ser livre. Sonhava em ter uma capacidade de se prender, de se sentir posse de alguém. De seu pai, de sua mãe, de sua irmã, do homem que ela amava, de deus, de seus amigos, do bairro onde vivia ou até mesmo do bairro onde tinha nascido, de sua cidade, de seu chefe, das causas nas quais acreditava, do Estado, de seus cantores preferidos, de seus professores. Desesperadamente Sophia desejava ser de alguém. Mas ela era dela, e só dela. Não tinha escolha: nascera assim. Era defeito de fábrica, culpa de ninguém. A liberdade de Sophia era seu câncer, que não a deixava ser de ninguém, exceto dela mesma. Ah, como ela queria se dar a alguém ou a alguma coisa que fizesse dela o que bem entendesse, gato, sapato, algemas e correntes. E que pertencer a alguém fosse a fonte de toda uma felicidade que desconhecia e invejava. Sophia não podia se dar de presente a ninguém, a nada. Misteriosamente cumpria o que o destino havia reservado pra ela. Lutava bravamente, mas no fim das contas, lá estava ela condenada novamente. Condenada a ser livre.

5 comentários:

  1. Mas... definir "liberdade" que é bom... nada. Fácil escrever assim.

    Quando tinha meus 17 anos e escrevi algo desse jaez, meu pai me disse: "tá ficando de miolo mole?" Aí eu aprendi a escrever que nem gente. Com concisão, coerência e correção.

    ResponderEliminar
  2. Me pergunto se Sophia tinha o entendimento que essa condição não lhe fazia ser tão ou mais infeliz do que se fosse do extremo oposto. Talvez, e só talvez, o que lhe falta(va) era assumir sua característica mais marcante e ir adaptando as pessoas de sua convivência diária/semanal a isso. Eu gostaria da Sophia e aceitaria que ela seja assim.

    ResponderEliminar
  3. Andy, se você não percebeu, a proposta deste blog não é definir nada, muito pelo contrário. Sem academicismos, eu misturo sensações que eu já tive ou que já percebi em outras pessoas com um sentido sempre figurado, jamais literal.

    Ai da literatura se sua proposta fosse definir, conceituar. Isso aqui é um exercício poético e não tem compromisso nenhum com nenhuma filosofia, com nenhuma explicação cientificamente embasada, com nenhuma verdade que já tenha sido catalogada. Não tem compromisso com nada além do que eu e minha ignorância somos capazes de fazer.

    Mas obrigada pelo comentário, de qualquer maneira, se você gastou sua energia, seu tempo e seu cérebro pra comentar um post tão insignificante, algum motivo tem, mesmo que nem eu nem você saibamos qual.

    Abraço!

    ResponderEliminar
  4. Muito pertinente seu comentário, Rafa. Acho que é esse o caminho que a Sophia deve tomar. Vamos acompanhar, estou só aguardando pra ver no que vai dar. :P

    Acho que ela adoraria saber que alguém gosta dela do jeito que ela é. :)

    ResponderEliminar
  5. huahuahuauh...

    que engraçado!.. eu não entendi direito, mas então quer dizer que a literatura virou dicionário? rss... bem legal o texto hein!

    Mas cá entre nós, liberdade é angustiante quando pensamos que o viver em sociedade ja te torna dependente de alguma coisa.

    ResponderEliminar

Que tal continuar o poema nos comentários? Co-criemos.