a poesia velha
me sufoca
contra a parede
me engessa
em absurdas
e mudas
feminilidades
minha vulva se revolta
pelos caralhos passados
pretérito imperfeito
que só é perfeito
no presente
porque o filho existe
meus seios despencaram
alguns milímetros
depois da amamentação
estão mais belos
agora molengas
do que quando eu tinha
quinze anos
histérica?
histérico era freud
que sexualizou tudo
até mesmo crianças
pedófilo encubado
talvez
escondido atrás
do charuto
cínico era lacan
quando tagarelava
entre outras bobagens
"a mulher não existe"
(1/4 da droga que ele tomou
por favor?)
a psicanálise velha me sufoca
me prende dentro de um corpo
que me é todos os dias negado:
pelos?
estrias?
rugas?
cheiros naturais?
móveis empoeirados?
louça na pia?
amar outra mulher?
coisas de homem
proibidas pra quem
nasceu com útero
tem que parecer
pré-púbere
tem que agradar
exigências masculinas
tem que
tem que
tem que
foda-se
risco
com minha carne
o hoje histórico
cuspo no mofo
dos livros
que falam de mim
mas não me representam
gargalho dos gênios
emburrecidos
pelo pedaço de carne
inútil e violento
que carregam
no meio das pernas
vomito a alma para fora
e por alguns instantes
exorcizo a literatura
herdada
dispenso heranças
prefiro a pobreza
de pensar
por mim mesma
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