Para os olhos, a pressa, fast forward tentando antecipar futuros. Para os ouvidos, a possibilidade do mute. Para a língua, venenos enlatados. Para o nariz, aromas fabricados. Para a pele, plástica. À procura do cume perdemos a bela flor amarela no meio do caminho. Tendo chegado ao mais alto, acusamos a outra de não nos amar, e o eco nos acusa de volta, porque a pressa de chegar no topo nos fez enxergar outras velocidades como atraso, e não paramos para nos darmos conta de que a nossa existência não é a única que está em jogo. Os sentidos estão cada vez mais famintos, pois tentamos matar a fome de sermos amadas desdenhando do amor. A pressa dos olhos que não se demoram parados dentro de outros olhos. O isolamento acústico à qualquer dor que não seja nossa. O sabor artificial. O aroma de ausência. O tato enojado. Rejeitamos com força a realidade do corpo. Rejeitamos o olhar sincero da outra pois a verdade dele machucaria a vida de mentira que levamos. A dor da outra, não ouvimos, para não termos de adimitir que sentimos dor também. E por olharmos sem vermos e por ouvirmos sem escutarmos, nos empanturramos de sal e açúcar pois consideramos a vida insossa. Reprimimos nossos cheiros pois eles são a mais pura expressão das nossas verdades animais. Não aproveitamos toda a superfície da pele porque procuramos o gozo rápido. Vivemos na bolha dos sentidos. Gritamos, de dentro das nossas bolhas, todas as nossas verdades que chamam de loucuras, e achamos que a nossa salvação está em quem grita o mesmo grito que gritamos. Mas não há salvação que não venha de dentro. Nós procuramos por nós mesmas em outros corpos. Procuramos pelo amor que não conseguimos nos dar. O amor que tentamos sentir distrai todos os nossos sentidos e acabamos exaustas e perdidas na falta de sentido de uma vida cuja felicidade é medida na base das sensações. Que cesse a festa das coisas graúdas e comece a celebração das miudezas.
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