sexta-feira, 2 de julho de 2010

Adeus, Sophia.

Adeus, Sophia. Teu nome me enoja: enjoa, enjoy the end. Você foi traída por sua própria identidade. Teu nome é que te traiu. Você não é sua. Está na boca do povo: eles usam teu nome em vão. Você é Sophia de todo mundo. Você não tem mais nome. Você é: você. Como gritar ao mundo que este nome é teu, só teu, e de mais ninguém? Como não se machucar por ver seu nome sendo dito sem a intenção de te chamar? Por que não disseram Mariana, Alessandra, por que usaram um nome que era o teu? Agora chora, menina sem nome. Chora machucada. Porque a única coisa imutável e definida em você já não te resta mais. Sophia. Sentirá saudades do teu antigo nome? Deixando de ser Sophia, deixará de ser você? Não mais será Sophia. Não, quero corrigir-me: já não é mais Sophia. Não ter um nome seria mais seguro: assim ninguém roubaria de ti seu silencioso nome por não sabê-lo.

Mas alguém possui um nome? Alguém é possuído por um nome? Quem é que tem um nome na vida? O nome é um destino? Por que não pode mais ser Sophia? Porque dói o ciúme de ver teu próprio nome servindo de beijo entre eles. Já não posso dizer mais que isso, não me é permitido dizer mais. Menina sem nome, que buscava antes o dentro de si porque já tinha algo definido ao qual se apoiar, pois que era em Sophia que se apoiava, ah, menina sem nome, agora não basta mais buscar o de dentro, terá que buscar o de fora, a casca, a tua conexão com o mundo: um nome. Sem pai, sem mãe, sem nome, sem nada. Com que forma se moverá dentro do Tempo e do Espaço? Põe o relógio no pulso do peito, desnomeada, desnorteada. Que talvez o infinito já tenha alcançado o neutro da inexpressividade. E já não caiba mais em você.

5 comentários:

  1. Achei o seu texto muito incrível!
    Confesso que fiquei confusa, mas eu acho que a graça está na confusão! Coisas lineares são tão óbvias..
    Sempre que escrevo meus textos fico pensando o quanto eles ficaram distantes do que eu senti no momento, quero dizer, porque essa é uma ferramenta que eu uso, fico mascarando o que eu sinto em textos. E eu gosto disso, ainda mais quando eu deixo pistas, é como se fosse uma piada interna haha.
    E quando eu estava lendo esse texto seu, o engraçado foi que eu fiquei pensando no que você sentiu para escrever isso. E ao mesmo tempo que é uma invasão de privacidade, é querer conhecer mais o autor.. Achei isso engraçado e quis te falar!
    E parabéns, gostei bastante!
    Só espero que a Sophia entenda que não é o nome que classifica ela, e sim ela que classifica o próprio nome!

    Muitos beijos

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  2. Caraca querida Lingua... parece q vc andou sob estress emocional mto forte ocasionado por uma traição... ou um novo amor de um antigo amor... se é q vc me entende.

    No começo deixa dúvidas sobre quem é a Sophia, se é você ou se é uma terceira que ficou falada por algo ruim que fez (joga pedra na Geni). Mas depois, com a cena da Sophia sendo pronunciada entre beijos me traz a imagem do ódio de um novo amor de alguém que quem você se distanciou, porém não se desligou...

    Desculpe, não sei o quanto é pessoal o texto. Se for, pode excluir o comentário, pq não sei o tanto q estou sendo grosseiro de tentar especular isso aqui. Ainda assim muito bonito, completamente carregado emocionalmente!

    Beijo!

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  3. Ah, Sophia. Isso se chama solidão. Isso se chama liberdade. Isso se chama. Isso não tem nome, Sophia. Isso não é você. Isso.

    (algum pedacinho nesse texto me doeu fundo na solidão sem nome que existe aqui!)

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  4. Existencialista.

    Caber no mundo talvez não caiba.

    Nós temos línguas semelhantes. Gosto do que escreve, combina-me.
    Parabéns pelos escritos.
    Vamos trocando leituras.

    Beijos, Rafa.

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  5. Muito, muito bom o teu blog (este fim de semana tive a sorte de descobrir tanta gente boa aqui na net)!
    Tuas reflexões finais sobre nome e destino são brilhantes! Vou linká-la, assim posso acompanhar nomes e nomeações que tuas palavras engendram! :)
    Beijos,

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