Estática. Nada retorna quando o que passou nunca foi. Ter sido não significa. O que poderia ter sido, ou o que era pra ser, foi jamais. Entenda o que digo: em todos esses anos que passaram, eu nunca de fato fui. A existência foi por mim. Você nunca teve medo de ter sido uma mentira? A cada dia nascemos, a cada noite morremos, mas o vento sopra em nós. Ser é um mistério que não ouso entender, mas compreendo. Compreendo agora, com minhas secas nervuras, já que ontem eu não era eu, e amanhã deixarei de ser o que sou, mesmo que aparentemente, sempre me seja. Que faço de mim quando mim não entende de ancestralidades? O ontem é meu ancestral antigo. O anteontem uma nuvem que se dissipou. Que faço do mim que estou agora sendo? Os pés duros, fincados, a cabeça verde a balançar, dando-me a grave ilusão de movimento. E ventre do fruto mais bendito vermelho. Deus me humilha com sua sádica intolerância. Tento me opor a deus, tolerando-me: fracasso. Nunca serei deus, eu que nem em deus posso crer. Nem Eva, nem a maçã macia. Eu sou a raiz de uma macieira secular que ignora a própria existência. Extática.
ar vore sem folhas porque online.
ResponderEliminarar vore na nuvem.
ar
Sábia árvore.
ResponderEliminarO alcance filosófico do pensamento arbóreo é impressionante: vivemos nos questionando de onde viemos e para onde vamos quando na verdade interessa o que estamos. Porque viver é estar. E do ponto de vista de uma árvore estar é bem estático! Talvez seja muito mais fácil pra ela realmente perceber que do alto de sua estaticidade que de nada adianta imaginar o que foi ou o que poderia ter sido, basta aceitar o que é. É tudo o que ela tem, e tudo o que poderá ser.
Lindo demais!
Beijo!
"A minha vida está toda atrás de mim. Vejo-a inteira, vejo-lhe a forma e os lentos movimentos que me trouxeram até aqui. Pouco há a dizer dela: é um jogo perdido, é isto. (...) Tinha perdido o primeiro jogo. Quis jogar o segundo, e perdi também: perdi a partida. Ao mesmo tempo, aprendi que se perde sempre. Só os patifes é que julgam ganhar. Agora vou fazer como Anny, vou sobreviver. Comer, dormir. Dormir, comer. Existir lentamente, suavemente, como aquelas árvores, como uma poça de água, como o assento vermelho do bonde.
ResponderEliminar— Sartre, A Náusea
Querida Língua!
ResponderEliminarSe me permite, algumas semanas trás fiz um poema que se aproxima do seu post:
http://meiolirico.blogspot.com/2010/06/zom-in-zoom-out.html#comments
Espero que goste!
Beijo!
ah, há muita densidade no teu texto, com uma coleção arguta de clichês sobrepostos. Mas não tem problema, eu também faço isto.
ResponderEliminarhttp://grots.wordpress.com
http://anese.wordpress.com
http://novotao.blogspot.com
http://piniao.blogspot.com
http://fanthist.wordpress.com
Divirta-se.
Tudo é saber o que se poderia ser, mas não foi; que quer ser, mas não é; que poderá ser, mas continua estacionado, nos primeiros estágios. Tudo é o resto, e o resto é o resto de tudo ou de nada.
ResponderEliminarAbraço a ti, querida moça.
E às vezes dá medo de estar sendo mentira, medo que aconteça de novo, folhas da certeza vão despencar..
ResponderEliminarMuito lindo seu texto. Li agora à pouco sua entrevista com Marcelo Novaes, e vim aqui conhece-la :) Muito boa língua :) Até breve!
Sorriso para ti, Juliana