segunda-feira, 19 de julho de 2010

sentimento eletrônico



"que importa o sentido se tudo vibra?" alice ruiz

sob grandes e caros óculos
me enxergam olhos gigantes
que de minha figura esquecerão
logo que a próxima música entrar

também eu me esqueço
(ou talvez esquecer não seja o sentido que busco)
[ou talvez esquecer o sentido seja o que busco]
os barulhos brigam demais a minha volta

chicotes dançam no ar, acima de todos
(invisíveis e inverossímeis cordas)
os bonecos dançam irremediavelmente
também eu danço, em estado de poder

olhos trêmulos e opacos me delatam
e eu, pupila, me pergunto, dilatada:
pertenço? não pertenço? pertenço? não pertenço?

estamos surdos a tudo, exceto ao deus que toca
estamos incomunicáveis e nossos dentes batem
(continuo tendo, dentro de mim, o dentro-de-mim?)

em densa agitação meu coração descompassa
se rebela mas não se faz ouvir:
meu coração é o corpo todo
e agora tem um ritmo incomum:
dança a dança do deus inútil

2 comentários:

  1. cara língua! Estava conversando sobre isso com uma amiga esses tempos, meu argumento é que estamos ficando cada vez mais dependentes desse mundo e individualistas por causa dele... na verdade as comunidades que criamos funcionam mais parecidas com a prisão de Foucault para fiscalizarmos uns aos outros do que realmente interagirmos e nos beneficiarmos das experiências alheias. Justamente o contrário - eu acho - do propósito original.

    Enfim, belo poema! Só nos resta esperar que esse Deus um dia possa ser útil, né?

    Bejo!

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  2. Oi Nathy, li seu texto no papo de homem, gostei e vim aqui conferir os outros rsrsrrs

    Vou apreciá-los com mais tempos.
    Bjusss

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