quinta-feira, 6 de novembro de 2014

pássaro preto

já amei o branco
da pomba da paz
não mais

já não amo
pacificamente
o mundo
como há meses
atrás

mas ainda amo
talvez não mais o mundo
e sim gaia

permito a raiva
e todos os contraditórios
não amo pelos aplausos
do auditório

amo pelo abandono
da menina abraçada
aos seus joelhos roxos
morta de sono

amo pelas lágrimas
guardadas durante anos
volume morto
envenenado
com pesados metais

ais!

pelo
buraco negro
no peito
que nos sugavam
sabe-se lá para onde
enquanto no quarto
com as luzes apagadas
lavávamos os travesseiros
engolindo o soluço
mudo
pra ninguém desconfiar

pelo medo
de termos pecado
antes de dormir

pelo desejo de
sonhar
com um espaço
onde fosse
permitido chorar
sem prender o ar

pássaro preto
riscando o céu
à noite

invisível
entre as estrelas

depois
de deixar a gaiola

eis o meu amor

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