sexta-feira, 16 de abril de 2010

um caso de amor e de ódio

palavra I – amor

a palavra é o grito que representa uma coisa que é muda e que jamais pode ou poderá ser representada, a coisa: esse é o maior sofrimento do poeta: dar som àquilo que nunca deixará de ser silêncio. poeta é o que trabalha com a matéria do impossível. poeta é aquele que veste o que nunca deixará de estar nu. o poeta é a própria nudez em forma de carne. sua palavra é suor e soa alto. palavra é o tronco que ecoa oco, mas que esconde e mostra seu cerne.

todas as palavras já foram ditas.


palavra II – a ódio

todas as palavras - essas malditas – já foram inventadas e já estão ditas. quando nasci, não sabia falar. quando soube, não pude escolher a palavra chichume para designar uma coisa que é uma panela. não pude escolher a palavra crelho para designar uma coisa que é casa. não pude escolher a palavra zomburo para designar aquilo que conhecemos como loucura!

e tem gente que ainda acredita em liberdade. tolos.

4 comentários:

  1. pára de escrever essas coisas, me mói por dentro pensar que tudo o que dizes é tão... real.

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  2. Sempre intensa e verdadeira. Ótimo...

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  3. E você sempre tão gentil, né Marcelo? Naaah, nem sempre. Por isso que gosto tanto da sua pessoa. hahah

    ;)

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  4. Palavras, palavras...O mundo é tão verborrágico!
    "todas as palavras já foram ditas"
    culto ao silêncio.


    ps:adorei.

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