se deixar
ir
depois de ir
e voltar
se jogar
como as águas
nas pedras do mar
sem se partir
se entregar
não ao que se pensa
mas ao que se sentiria
se a
mente
patriarcal
mente
não existisse
se a mentira
moral
branca (e gelada)
como a neve
nunca tivesse sido
pronunciada
branca de neve
gelada como a morte
dentro de um caixão
no meio da floresta
a ressurreição
com um beijo
de amor
do príncipe encantado
num cavalo
branco
o reino
dos sonhos
acorrentado
pelo mito da
salvação
e se o deus
fálico
bélico &
pálido
nunca tivesse
sido criado
à imagem e semelhança
do homem?
eu pergunto demais
eu devo ir?
devo
me deixar ir
depois de
um dia já ter pensado
e depois de já ter pensado
todos os dias da minha vida
desde quando me descobri
pensante?
deveria eu me deixar?
o que se pensa
pesa nas costas
porque a mentira
é a cruz que carregamos
pesada
que nos aponta
quem é que leva
as chibatadas
deixar de pensar
depois de um tanto já ponderado
eis a entrega
das pagãs
xamãs
das sonhadoras
irmãs
eu abandono
meu não-pensamento
ao pensamento
daquelas que já estão fartas
de pensar
das que querem agir
sem pestanejar
como se estivessem a
sonhar
sonho é o ponto
de intersecção
da conexão
entre mente e
aquilo que não mente
sonhar
é como se fosse
morrer
mas isso é que é
viver
faceiras &
feiticeiras
dançando
com lilith
e com gaia
nuas
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