solar
eu era ar
mente mentante
lunar
eu era água
coração galopante
ascendente
o fogo era eu
intenção transmutante
depois do filho
o norte
agora sou terra
vou também
cheia de chão
e sorte
solar
eu era ar
mente mentante
lunar
eu era água
coração galopante
ascendente
o fogo era eu
intenção transmutante
depois do filho
o norte
agora sou terra
vou também
cheia de chão
e sorte
mãos espalmadas
em frente ao peito:
mendicância
a um pai
que não existe?
saudação à
deusa
que me reside.
{de[u]s
orientada}
desejo:
que minha mente
desocidente
e que o som
do meu coração
me oriente
bunda mole
cabeça dura
classe-média
comédia
racista
machista
contador de
conquistas
tragédia
de repente
deixei de ser
doce
[que vicia]
eu não tô na vida
pra ser vício
de ninguém
[nem vadia]
no meu corpo moram
todos os sabores
[iguaria]
nasci foi pra ser
provada
pela língua
destravada
desbravada
ou tudo
ou nada
tá tudo pontuado
partido passado
lido sentido
quase superado
agora o que quero
ver o ponto final
ser transformado
em marco zero
para obedecer
ao íntimo
ritmo
apenas uma
premissa
que para tanto
haja espanto
contra toda
injustiça
face a face
não existem mais
disfarces
máscaras dadaístas caem
deixando às vistas
rostos de carne e osso
o medo pulsando tenso
na veia do meu pescoço
por trás do véu de maya
sob os músculos e sangue
eu vou como carangueijo
cruzando o lodo do mangue
até chegar ao mar
sereia de Ulisses
cantando encantamento
sem perigo, essa tolice
eu canto porque preciso
eu grito pra mergulhar
não no lago de Narciso:
no espelho de Alice
atravesso sozinha
o meu próprio precipício
louvar o prepúcio do príncipe
não está nos meus princípios
se ele não consegue
ler estrelas
[nem as do céu
nem as minhas]
que poderia eu significar
portanto
pra um analfabeto
de entrelinhas?